segunda-feira, 17 de outubro de 2011

GRANDE SERTÃO: VEREDAS - GUIMARÃES ROSA
"Tivesse medo? O medo da confusão das coisas, no mover desses futuros, que tudo é desordem. E, enquanto houver no mundo um vivente medroso, um menino tremor, todos perigam - o contagioso. Mas ninguém tem a licença de fazer medo nos outros, ninguém tenha. O maior direito que é meu - o que quero e sobrequero -: é que ninguém tem o direito de fazer medo em mim."
Grande Sertão: veredas
Guimarães Rosa

Riobaldo, protagonista do romance Grande Sertão: Veredas, percebe que o medo é contagioso e reconhece o seu direito de não lhe fazerem medo. Munido de tal certeza, embrenha-se por entre as veredas mortas em busca de um pacto com o diabo. Procura uma encruzilhada sombria e permanece a espera do tinhoso.
"O que tinha por mim - só a invenção da coragem."
A noite passa dentro do personagem. Os espectros das veredas sombreiam seu corpo e incorporam as expectativas e visagens do jagunço. Os primeiros raios do amanhecer iluminam a obscuridade de Riobaldo. O pacto com o diabo é um pacto com ele próprio. O personagem é fortalecido com a apropriação do medo. O agente do perigo é ele e não a projeção no mundo do "coisa ruim" que aprendeu desde criança a temer e respeitar.
"Posso me esconder de mim?" O questionamento abre a chaga do verdadeiro mistério. Riobaldo deixa-se abater pela febre na claridade.
"Viver é muito perigoso", "viver é um descuido prosseguido", mas o jagunço, com tiro certeiro, afirma que "viver é etcétera". A infinidade de veredas que podemos perfilar na oração de nossas ações. As possibilidades podem estar sob as sombras dos nossos receios.
O homem e suas projeções, ações e omissões num mundo indiferente. Os conflitos humanos construindo e destruindo as teias de vivências. É necessário viver o paradoxo. Ser heroicamente autor de nossas covardias... Será? E a coragem de criar, de retalhar o medo na intimidade e desafiar o mundo como Riobaldo desafia ao lançar-se num pacto com o representante do Mal?
A coragem de construir alicerces para nossa incompletude. Assumir o risco pelo dano que podemos nos causar... "Viver é etcétera..." Riobaldo reacendeu a coragem na conquista de um novo espaço no mundo.
O mundo é indiferente, o mal é apenas uma projeção... O ser é o cerne de seu temor, o vir a ser e o não ser... os grandes interditos... O direito está em ser o único perigo real.
"Medo agarra a gente é pelo enraizado." Estar preso às raízes pode impossibilitar um olhar mais amplo para as conquistas dos novos horizontes. Presos às limitações dos sentidos, resta-nos permanecer na situação, culpando o medo e o remorso por nossa inação.
Na vida devemos valorizar nossas origens nas raízes que nos prendem aos solos, mas devemos construir nossas antenas para poder compartilhar as inovações do mundo e enfrentá-las com segurança.
"Só temos que temer o próprio medo." Edgar Morin, com outras palavras, afirma o direito declarado por Riobaldo e elabora o mistério "Todo mistério do mundo está no nosso espírito. Todas as estruturas do nosso espírito são projetadas ao exterior, sobre o mundo."
A realidade se perde, pois só pode ser concebida se o sentimento for iniciado no homem e nele terminar com a atitude de um pacto em que o medo passa a compor para um objetivo... Contudo, quando o homem perde a noção da extensão de si e dos seus atos, os sentimentos são projetados para o outro, o medo surge como a impotência de ser para si, como a negação de ser para o outro.
Guimarães Rosa desvenda os sertões, abre veredas de lucidez e sensibilidade por intermédio do jagunço Teobaldo. Quantas são as passagens que poderiam ser objetos de ensaios! Quantas exclamações salientam a pluralidade do homem! Quantos sertões existem a serem desbravados!
O final do romance umedece todas as sensações. A morte de Diadorim, o menino da travessia do São Francisco que cresceu, cruzou os sertões em vida de vingança e morreu em combate num corpo feminino, é toda a poesia.  Neste momento a prosa de Guimarães Rosa é imagem, som e pensamento - as veredas, os versos a construir o poema-sertão.
O leitor, seduzido, vivencia a emoção sem poder decifrar a simbologia de tantas metáforas, envolve-se de forma plena sem ter a real percepção de suas emoções. O encontro de Teobaldo e Diadorim se dá na impossibilidade. O mistério se apaga nos finos lábios que, calados, se tornam sertão.
O ser humano na travessia, muitas vezes teme ousar por novas veredas, amedronta-se diante de novas abordagens - a incapacidade aniquila o paradoxo e estagna o homem na limitação do perigo aparente.
Guimarães Rosa ousou. Criou uma nova linguagem e inovou no desenvolvimento do enredo, retratando áridas vidas que compõem os sertões do mundo, sem temer a crítica. O grande desafio estava em transformar em literatura a sua percepção do mundo e dos semelhantes. 
Ninguém teve o direito de lhe fazer sentir medo. Nós, leitores, admiramos sua coragem criativa e sua grande obra e devemos nos preencher das metáforas do caminho para assumir o pacto com nossa ambigüidade.
Conscientes de que o medo se instaura na ausência da força de uma realização. Concretizemos nossos ideais para estabilizarmo-nos diante da confusão das coisas num futuro incerto dentro da perspectivas dos caminhos que se descobrem nos primeiros passos.


Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 25/01/2005 
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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

GRANDE SERTÃO: VEREDAS – RESENHA E ANÁLISE DO LIVRO DE GUIMARÃES ROSA.

GRANDE SERTÃO: VEREDAS – RESENHA E ANÁLISE DO LIVRO DE GUIMARÃES ROSA.
A obra, uma das mais importantes da literatura brasileira, é elogiada pela linguagem e pela originalidade de estilo presentes no relato de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, seus medos e o amor reprimido por Diadorim
O romance Grande Sertão: Veredas é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance, elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.
NARRADOR
O foco narrativo de Grande Sertão: Veredas está em primeira pessoa. Riobaldo, na condição de rico fazendeiro, revive suas pelejas, seus medos, seus amores e suas dúvidas. A narrativa, longa e labiríntica, por causa das digressões do narrador, simula o próprio sertão físico, espaço onde se desenrola toda a história.
A obra, na verdade, apresenta o diálogo entre Riobaldo e um interlocutor, que não se manifesta diretamente. Portanto, só é possível identificá-lo e caracterizá-lo por meio dos próprios comentários feitos por Riobaldo.
ENREDO
Duas grandes guerras são narradas em Grande Sertão: Veredas. A primeira é protagonizada pelos líderes Joca Ramiro, Sô Candelário, Titão Passos, João Goanhá, Ricardão e Hermógenes contra Zé Bebelo e os soldados do governo. Apanhado, Zé Bebelo é julgado pelo tribunal composto dos líderes citados, dos quais Joca Ramiro é o chefe supremo. Hermógenes e Ricardão são favoráveis à pena capital. No fim do julgamento, porém, Joça Ramiro sentencia a soltura de Zé Bebelo, sob a condição de que ele vá para Goiás e não volte até segunda ordem. Nesse ponto, a primeira guerra chega ao fim.
A paz, então, estabelece-se em todo o sertão. Até que, depois de longo período de bonança, aparece um jagunço chamado Gavião-Cujo, desesperado, e anuncia:
“Mataram Joca Ramiro!
Começa, então, a segunda guerra, organizada sob novas lideranças: de um lado Hermógenes e Ricardão, assassinos de Joca Ramiro e traidores do bando; de outro, Zé Bebelo – que retorna para vingar a morte de seu salvador, chefiando o bando de Riobaldo e Diadorim – com os demais chefes. A segunda guerra termina
no fim do romance na batalha final do Paredão, na qual morre Hermógenes.
TEMPO
Nessa narrativa, pode haver dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa, que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes do enredo, para facilitar a leitura:
1ª parte – introdução dos principais temas do romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como foi dito, não aparece diretamente na obra.
2ª parte – inicia-se in medias res, ou seja, no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joça Ramiro.
3ª parte – a narrativa retorna à juventude de Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena embarcação.
4ª parte – conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo – Tatarana é rebatizado como “Urutu Branco”.
5ª parte – epílogo. Riobaldo retoma o fio da narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra “travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito.
ESPAÇO
O espaço geral da obra é o sertão. Os nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode ser interpretada como a travessia da existência.
ALGUNS ESPAÇOS DO SERTÃO
Podem ser listados alguns espaços da narrativa em que importantes ações do enredo se desenvolvem.
Chapadão do Urucúia - local da travessia do rio São Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.
Fazenda dos Tucanos – espaço onde o bando liderado por Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.
Liso do Sussuarão – local da tentativa frustrada de travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e consequentemente retirada.
Local da narração – fazenda de Riobaldo, localizada na beira do rio São Francisco, ‘a um dia e meio a caval”no norte de Andrequicé.
Paredão – espaço da batalha final, onde Diadorim morre e termina a guerra.
Veredas Mortas – local do possível pacto de Riobaldo.

FONTE:http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia_419340.shtml

BOAAA....PESSOAL..BJUS...